Artigos mais Recentes

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

John Truby adverte: o paradigma em três atos irá matar o seu roteiro.

Roteirista e Professor de roteiro coloca em xeque a fórmula mais difundida da dramaturgia audiovisual.


Sem sombra de dúvida, a mais popular teoria de roteiro para cinema de todos os tempos é o paradigma em três atos de Syd Field.

Segundo Field, a estrutura de roteiros bem sucedidos teria invariavelmente a forma: 

Ato I Apresentação– Ponto de Virada 1 – Ato II  Confrontação– Ponto de Virada Dois – Ato III Resoluão

Desde a publicação do primeiro livro de Field em 1979, muitos autores, roteiristas e professores assimilaram e difundiram este paradigma.

Alguns outros, como Robert Mckee, apenas o ignoraram e continuaram a mostrar que estruturas de roteiros podem ter 3, 4, 5, ou até 8 atos, não dando muita bola para o assunto.

Porém, muitos poucos se deram ao trabalho de tentar combater a teoria, de mostrar suas falhas e incongruências. Destes poucos, John Truby é a voz mais ativa e influente.

Segundo Truby, a estrutura em três atos é o maior e mais destrutivo mito difundido entre roteiristas. Não  poderíamos nem dizer que ela está obsoleta, pois isso implicaria em dizer que um dia ela teria funcionado. Para Truby, ela sempre foi um engodo.

O paradigma só existiria porque Syd Field, um analista de roteiro, o inventou quando notou que coisas importantes aconteciam perto das páginas 27 e 87. Field chamou essas coisas de “pontos de virada.” e afirmou que baseado nisso, todo roteiro tinha três atos, e incrivelmente, muitos acreditaram. Truby contabiliza em mais de cem títulos, os livros que se seguiram difundido essa idéia.

Alguns teriam ido além e dito que toda forma de ficção se utiliza de três atos, e que foi Aristóteles quem originalmente desenvolveu essa teoria. Truby argumenta que Aristóteles nunca disse nada sobre três atos, apenas disse que toda estória deve ter começo, meio e fim, o que é completamente diferente.

Mas afinal, o que seriam os Atos? O conceito vem do teatro, quando as cortinas se abrem e se fecham. Como isso se aplicaria ao cinema, um meio muito mais fluído? 

Os termos padrões dessa estrutura – atos, pontos de virada reversão, clímax, resolução – são tão genéricos que nada significariam. E isso quer dizer que eles são difíceis de aplicar em uma determinada trama ou personagem. Truby exemplifica: Digamos que seu personagem está sendo perseguido pelos bandidos num beco escuro. Isso é um ponto de virada, uma reversão, o clímax, ou apenas mais uma cena? Os conceitos são as ferramentas do roteirista e se elas forem imprecisas, o roteirista fica na mão.

A Estrutura em três atos também seria falha por não enfatizar a construção do personagem. Nenhum de seus conceitos padrões é tem qualquer relação com personagem. Isso resultaria em roteiros com personagens rasos. 

Para Truby, estruturar o roteiro pelo paradigma de três atos de Field, invariavelmente  gera roteiros com tramas fracas, pois este  prega que um roteiro precisa de apenas dois ou três pontos de virada. No cinema atual, que usa história com  tramas super amarradas, roteiros tem usado até 12 viradas da estória. O paradigma de três atos geraria roteiros  que falham no meio, pois o paradigma não diz o que deve conter ali.

Por último, diz Truby, a estrutura em três atos não funcionaria simplesmente porque é arbitrária. Se você mostrar um roteiro para dez pessoas diferentes, e perguntar onde estão as divisões dos atos e e os pontos de virada, ouvirá dez respostas diferentes. E todas estarão corretas. Divisões de atos estão onde você disser que estão. Então, por que não dizer que todos os roteiros são divididos em quatro atos, ou cinco, ou seis. O veterano Preston Sturges, dividia seus roteiros em oito atos.

Para Truby, roteiros profissionais não envolvem estruturas simplistas em três atos. Roteiristas que se guiam  pelo paradigma de Field, criam roteiros ruins e falhos. Ao invés da forma “tamanho universal” do paradigma em três atos, deve-se procurar uma forma que sirva à sua estória, e ao  gênero em que ela se insere.
 
Roteiristas profissionais necessitam de ferramentas e conceitos mais úteis e precisos para encarar a página em branco. Amanhã, no auditório da Universidade de Westminster, John Truby começa a ensinar as dele.

De Londres
Fernando Marés de Souza
Roteiro de Cinema, roteirodecinema.com.br


Para ir além:
Leia o Artigo em inglês: Why 3 Act Will Kill Your Writing

15 comentários:

  1. Interessante. Marés, você diria que as visões de Mckee e Truby são opostas ou semelhantes?

    ResponderExcluir
  2. A princípio diria que são bem diferentes, mas não sei bem, Pietro. Me pergunte segunda, após o curso.

    ResponderExcluir
  3. Acho um exagero dizer que 3 atos irá “matar”- acho uma frase de efeito do Truby.

    Field escrevia p/ um estudante urgente. Se foi levado a cabo por profissionais, raro deve ter nascido um belo roteiro dessa inserção, mas pq não? Seja por acaso ou persistência.

    Marés, vc conhece um roteiro primoroso com os 3 pontos de virada muito visíveis?

    Pelo texto do Marés, Pietro, apreendi que Mckee não toma como verdade, mas não nega, ignora.
    É apenas uma regra pra facilitar a produção de alguém sem a menor desenvoltura de roteirizarão. Sem negar a possibilidade de que haja muitos roteiros com 3 viradas bons. Gostaria de ler um. Me indica, Marés?
    E boa curtição por aí..., Marés.

    ResponderExcluir
  4. ah..não havia visto a resposta do Fernando.

    ResponderExcluir
  5. atá, Pietro vc pergunta truby em relação a mckee.
    levei syd p/ história. sorry.

    ResponderExcluir
  6. Sinceramente, achei um baita exagero do cara. Ele parece fazer a mesma coisa que o Field, só que em sentido contrário. É claro que a estrutura de três atos pode ser vista como similar à noção de princípio, desenvolvimento e desfecho, ou início, meio e fim, como o Ari já dizia. O problema do Field foi bitolar nisso, achar que encontrou uma pedra filosofal. Mas o fato de a parada não ser a solução até pra roteiros com unha encravada não quer dizer que "a estrutura em três atos vai matar o seu roteiro!". Não precisa exagerar, né?

    Mas espero que a aula seja boa, anyway. Exagerar faz parte do jogo.

    ResponderExcluir
  7. Olá Fernando Marés,
    Sempre que puder, faça um resumo geral de cada dia do seminário para postar nesta página e, futuramente, seja mais um material para postar no roteiro de cinema, pois servirá de estudos. Enfim, esse documento aí acima é muito valioso.
    Abraços a todos!

    ResponderExcluir
  8. Valeska
    Lembro agora, telma e heloisa, e.t., o fugitivo, chinatown, central do brasil, tropa de elite, ceu de soely, tem a estrutura dos tres atos bem nítida. Rei Leao... Field simplifica, Mckee amplifica e este Truby eu estou lendo no google, acho que ajuda a pensar. No fundo, arte nao tem receita. Um beijo demorado no seu rosto lindo!

    ResponderExcluir
  9. A Arte & Letra bem que poderia comprar os direitos e traduzir o livro do John Truby para português.

    ResponderExcluir
  10. Antes tem que fazer uma revisão no texto e capa do Story.

    Tudo bem, estou sendo chato voluntariamente.

    ResponderExcluir
  11. Acho que a estrutura de Field é uma receita de bolo para iniciantes que dá muito certo. Claro que os mais ousados, mesmo os iniciantes, devem burlar toda e qualquer regra, inventar suas próprias receitas. Assim se faz vanguarda. Mas não dá pra jogar na lixeira assim do nada algo que deu muito certo em milhares de roteiros.

    ResponderExcluir
  12. Realmente Lenhinha, vc ta certa, eu estou estudando, roteiros, e pretendo escrever, e percebo isso. Para iniciantes, é otimo, mas acredito que todo roteirista deve ousar. Nao sei se é para filmes, mas se analisarmos seriados, como lost, temos varios pontos de viradas.
    acredito que hoje as pessoas nao querem mais filmes simples, querem historias complexas onde tenha varios pontos de viradas.
    Parabens Fernando Mares pelo seu site, que otima contribuiçao para cinema nacional.

    ResponderExcluir
  13. ops, descupe...Leninha e nao Lenhinha...

    ResponderExcluir
  14. Acredito que a partir do momento que o roteirista tem noção de que não existe estrutura definitiva, já quebra o argumento (fraco) do cara. Não importa se um roteirista iniciante começa usando os Três Atos, Jornada do Herói, etc. O importante é que ele domine as estruturas mais conhecidas com o tempo e experiência para, só depois, começar a modificá-las, criando a sua. Alan Moore mesmo faz muito isso: cria uma estrutura nova e diferente para cada novo projeto, de acordo com sua necessidade. E como faz isso? Simplesmente porque ficou mais do que mestre no básico. Além disso, acho o esquema de Três Atos bastante maleável quando vemos que ainda tem o Ponto Central, Ganchos I e II, totalizando cinco Pontos de Virada (com os tradicionais I e II), o que, num filme de duas horas, é mais do que suficiente para criar a sensação de "montanha-russa" dos acontecimentos, dando tempo para o espectador respirar e absorver os ocorridos a cada clímax.

    Em suma, também acho exagero dele como acho também que ele faz um deserviço aos roteiristas sendo tão fanático em defender a teoria como Syd foi com os Três Atos.

    ResponderExcluir
  15. É fácil de entender quem está "certo"... cada estudioso olha para o roteiro e faz uma leitura estrutural diferente, gerando assim conceitos distintos. Excelente para quem quiser se aprimorar na crítica... mas se a tua vocação é escrever roteiros, sugiro despir-se das vestes conceituais e sentar o dedo na escrita. Afinal, todo grande roteiro já foi original um dia, certo?! Boa sorte audiovisual a todos!

    ResponderExcluir

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails