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quarta-feira, 30 de março de 2011

MinC faz propaganda e induz ao uso de entidades privadas sem licitação

A Ministra Ana de Hollanda  justificou a retirada da licença Creative Commons do site do ministério diante de uma platéia de músicos na Funarte com a seguinte argumentação:
"Pra você colocar alguma entidade privada que está, vamos dizer, induzindo ao uso de um serviço privado teríamos que fazer uma licitação. Foi uma medida de precaução. Eu tenho que zelar pela transparência e uma das preocupações era essa. É uma entidade privada, era uma propaganda sim, que induzia a usar essa forma de licenciamento." 
A íntegra da declaração da Ministra pode ser conferida no vídeo abaixo, publicado no canal ciberativismo.



Segundo a ministra, para usar o serviço gratuito de licenciamento do Creative Commons era preciso fazer licitação. Pois bem, então denuncio que o Ministério da Cultura está usando diversos outros serviços de entidades privadas sem licitação, induzindo ao uso destes serviços, fazendo propaganda no site do Ministério. Um escândalo:


O uso de outros serviços - inclusive induzindo ao uso destes - de entidades privadas como Twitter, Flickr e Youtube no site do Ministério se dá sem licitação, até que se prove o contrário. A declaração da ministra Ana de Hollanda de que retirou o CC do site "por precaução", já que "não houve licitação", só nos deixa duas opções: ou a ministra é incompetente por não zelar direito pela transparência fazendo propaganda de entidades privadas no site do Ministério, ou é mentirosa por proferir falsidades para ocultar a verdadeira razão da retirada do Creative Commons do site. (update. Um leitor fanfarrão diz que há uma terceira possibilidade: a ministra seria realmente "meio autista"...)

Se é verdade o que nos diz a ministra, ela coloca também em suspeição a lisura do site da chefe dela, pois o blog oficial da Presidente Dilma Roussef utiliza a licença sem ter realizado nenhum processo licitatório.

Update: O blog Trezentos faz uma análise similar e envia como questão os Ministério da Cultura.

A licença atual usada pelo site do ministério, em substituição ao Creative Commons, é de apenas uma linha genérica: "O conteúdo deste site, produzido pelo Ministério da Cultura, pode ser reproduzido, desde que citada a fonte." A assessoria de comunicação do MinC foi consultada e não soube responder o que isso significava de fato, se está autorizada também a publicação dos textos - reprodução e publicação são conceitos jurídicos diferentes - ou se é permitido o uso comercial do conteúdo, etc. Para entender melhor como a atual licença é falha, leia o que diz o próprio Creative Commons sobre o caso.

A retirada do Creative Commons foi uma medida catastrófica. Não só sinaliza o alinhamento da Ministra com uma mentalidade arcaica, meramente mercantilista da cultura, que vê no Creative Commons e na internet apenas uma ameaça aos seus rendimentos, mas também demonstra que a gestão atual desconhece o Direito Autoral e seus conceitos jurídicos. E é dessa gestão atual que deveria sair a Reforma da Lei do Direito Autoral. A Ministra da Cultura perde cada vez mais sua credibilidade, e enquanto a Presidente Dilma Roussef silencia sobre os rumos tomados no MinC com relação ao Creative Commons, reforma da LDA, e Marco Civil da internet, a credibilidade de Dilma vai se esvaindo também.

Ana de Hollanda vêm fazendo o contrário do que prometeu Dilma aos cyberativistas, quando falou na Campus Party em 2010. A pergunta que fica é a seguinte: Ana de Hollanda vem traindo o projeto de Dilma, ou Dilma enganou todos nós?



Fernando Marés de Souza

segunda-feira, 28 de março de 2011

Estréia VIPs, escrito por Bráulio Mantovani e Thiago Dottori

O aguardado filme dirigido por Toniko Melo com roteiro de Bráulio Mantovani e Thiago Dottori  estreou nos cinemas em todo o Brasil.

VIPs, da O2 Filmes, traz Wagner Moura no papel de um golpista cujo maior prazer é imitar as pessoas e se passar pelos outros. "Alimentando o sonho de aprender a voar e tornar-se piloto como o pai, Marcelo foge da casa da mãe e começa a maior aventura de sua vida, cada vez se passando por uma pessoa diferente. Até dar o maior golpe de sua vida: fazer-se passar pelo empresário Henrique Constantino, filho do dono da companhia aérea Gol, em uma grande festa no Recife".


O argumento de Toniko e Bráulio é inspirado na vida de Marcelo da Rocha, narrada no livro “VIPS – Histórias Reais de um Mentiroso”, escrito por Mariana Caltabiano, mas Toniko faz questão de frisar que o filme é pura ficção, "onde a 'realidade' é usada apenas como uma desculpa para investigarmos a nós mesmos”. Thiago Dottori entrou no projeto, inicialmente, como assistente de Bráulio Mantovani. O trabalho dos dois, aos poucos, evoluiu para uma parceria, e Thiago passou a assinar como coautor do roteiro.

Thiago escreveu a série  “Trago Comigo”, dirigida por Tata Amaral, pelo qual foi indicado ao prêmio Qualidade Brasil na categoria de melhor autor de minissérie. Bráulio escreveu o roteiros de "Cidade de Deus", premiado pela Academia Brasileira de Cinema e indicado ao Oscar pela AMPAS americana, da qual Bráulio é membro, e é um dos mais prolíficos e populares roteiristas brasileiros, trabalhando em obras como "Última Parada 174”, "Tropa de Elite", “Linha de Passe” e "O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias". Thiago e Bráulio são membros da associação de "Autores de Cinema".

Thiago Dottori à esquerda e  Bráulio Mantovani à direita.
Um produto da O2 Filmes, assinado por Fernando Meirelles, Paulo Morelli, e Bel Berlinck, VIPs foi o grande vencedor do Festival de Cinema do Rio ano passado, recebendo o Redentor de Melhor Filme, além de Melhor Ator para Wagner Moura, Melhor Ator Coadjuvante para Jorge D’Elia, Melhor Atriz Coadjuvante para Gisele Fróes. É a estréia do diretor em longa-metragens, Toniko Melo dirige publicidade desde 1989, e dirigiu episódios da série "Som & Fúria" também produzido pela O2, exibido pela Globo.

Em entrevista para blog oficial do filme e um vídeo promocional, Thiago, Bráulio e Toniko falam sobre o processo do roteiro:



Do Argumento ao Roteiro

Entrevista com os roteiristas Bráulio Mantovani e Thiago Dottori pelo blog oficial do filme.
Originada de um primeiro ensaio de roteiro sobre o farsante que se fez passar pelo dono de uma companhia aérea brasileira durante o carnaval do Recife, a ideia para a trama de VIPs ganhou um novo enfoque a partir da construção de seu argumento. O objetivo do diretor Toniko Melo era transformar em ficção a história real, buscando um viés mais aprofundado, que fosse além dos golpes dados por Marcelo da Rocha. Coube a Bráulio Mantovani e Thiago Dottori delinear os primeiros contornos do Marcelo ficcional: um personagem forte, cujos traços psicológicos deveriam ser explorados em toda sua complexidade.
Hoje, só aqui no blog, você conhece mais sobre esse processo de conversão do real em ficção. Confira abaixo a entrevista com a brilhante dupla responsável pelo roteiro de VIPs: Bráulio Mantovani e Thiago Dottori.
Como foi o processo de adaptação do livro da Mariana Caltabiano? Você diria que é baseado no livro, ou livremente inspirado?
Bráulio – O processo de adaptação foi um pouco complicado. A vida do verdadeiro Marcelo é repleta de acontecimentos. São tantos os golpes (e muitos deles tão interessantes) que foi difícil escapar à tentação de contar todos. Outros roteiristas tentaram isso antes de o Thiago Dottori e eu entrarmos no processo. Lemos esses roteiros anteriores, todos muito bons, e percebemos que a quantidade de golpes do Marcelo que aconteceram na realidade – tão saborosos quando lidos no livro da Mariana – acabavam produzindo, no roteiro, um efeito de cansaço e repetição, por mais que os roteiros estivessem bem escritos.
Foi então que, ainda no processo do argumento (que desenvolvi em parceria com o diretor Toniko Melo), procuramos exaustivamente um outro viés para o filme. Percebi que o que de fato havia seduzido o Toniko na história real não eram os golpes do Marcelo, mas os traços psicológicos do golpista. Especialmente a característica que diferenciava o Marcelo de outros golpistas (famigerados ou não): ele se deixou prender, no Rio de Janeiro, depois de se fazer passar por Henrique Constantino no Recife.
Thiago - Acho que as inúmeras histórias vividas por Marcelo causam uma espécie de encantamento em quem toma contato com elas. E por isso mesmo havia ali uma armadilha para ser desmontada; era preciso perceber o que havia por trás disso tudo. No roteiro, demos um mergulho atrás desse sujeito, do tipo: “Você pode ter enganado muita gente, mas a nós, escritores e diretor do filme, você não vai conseguir enganar. Mostre sua cara”. Nesse movimento, nós criamos um outro personagem que, hoje, me parece bem diferente do personagem real. Essa descoberta da motivação do Marcelo foi sempre o que nos norteou na construção do roteiro.
Como foi a definição do Marcelo como personagem de ficção? Houve alguns contornos da personalidade dele que foram adaptados para o roteiro?
Bráulio – O Marcelo do roteiro não existiria se não existisse o Marcelo da realidade. Porém, o Marcelo da ficção é muito diferente do Marcelo que se fez passar por dono da Gol e hoje está preso. Muitas das coisas que aconteceram na realidade acontecem também no roteiro. Porém, essas mesmas ações e peripécias possuem uma outra verdade: a verdade do personagem ficcional.
Thiago – Há um aspecto curioso sobre isso. Lembro que enquanto trabalhávamos no roteiro, já bastante distantes do material original (as entrevistas e o livro de Mariana), soubemos que haveria uma matéria na TV sobre o Marcelo. Obviamente, eu e o Bráulio assistimos à matéria, que foi veiculada num domingo à noite. Fiquei um pouco intrigado com o que vi. Algo ali me incomodava. Logo depois meu telefone tocou; era o Bráulio. A primeira coisa que ele me disse foi: “Nós não estamos fazendo o filme sobre esse cara. Esse não é o personagem do nosso roteiro”. Foi quando eu finalmente consegui me desapegar do real e partir de vez para a ficção.
E os outros personagens? São todos “radicalmente inventados” (por exemplo, a Sandra – Arieta Corrêa –, a única que percebe que o Marcelo não é o Henrique Constantino)?
Bráulio – Quase todos os personagens do filme saíram, de alguma maneira, da história real. Todos, porém, foram radicalmente reinventados para compor o universo do protagonista que nós inventamos. Como eu disse antes, a realidade forneceu os nutrientes para alimentar a nossa criação. O DNA de todos os personagens, porém, é pura ficção. Vale ressaltar aqui que a personagem da mãe do Marcelo (que não tem nada a ver com a mãe real) ganhou no filme uma dimensão muito mais interessante em relação ao roteiro graças à interpretação de Gisele Froes. Essa atriz maravilhosa fez a personagem crescer. Ela soube potencializar o que estava apenas insinuado no roteiro. Interpretações como a de Gisele são um presente para qualquer escritor.
Thiago - Aliás, se tem um aspecto que realmente salta aos olhos no filme foram as escolhas de elenco feitas pelo Toniko Melo e pela Cecília Homem de Mello. Além da maravilhosa interpretação da Gisele Froes, citada pelo Bráulio, há muitos personagens, e todos estão muito bem interpretados pelos atores. A personagem da Sandra, vivida pela Arieta Corrêa, por exemplo, era um tremendo desafio, porque ela precisava se estabelecer muito rapidamente; em poucos planos, era necessário que ela se destacasse do universo ao seu redor. Acho que ela foi muito feliz, não só nisso, mas também na cumplicidade que ela conseguiu estabelecer com o personagem do Marcelo. Tudo isso ilumina a história que a gente escreveu, muitas vezes revelando aspectos que a gente não tinha pensado.
Quais foram os temas da história de Marcelo que mais te interessaram para o roteiro? Há uma crítica ao mundo de aparências dos chamados VIPs, um mundo do qual o Marcelo revela toda a superficialidade.
Bráulio – Para mim, essa questão do mundo das celebridades é quase periférica no roteiro. O que me interessa mais é o personagem que nós criamos. Ele tem uma singularidade original. O mundo das aparências povoado por celebridades é apenas um palco onde a fantasia de Marcelo ganha uma verdade assustadora. A crítica ao universo VIP que, acredito, está presente no filme é apenas uma camada a mais da história.  A subjetividade enviesada de Marcelo é, na minha opinião, o foco central do filme.
Thiago – Além dos temas levantados pelo Bráulio, há um tema que me interessa bastante nessa história: a questão da identidade. Eu me identifico com um sujeito em busca da sua própria identidade. Acho que é uma questão com que todos nós nos deparamos em algum momento. Outra coisa que me interessa é perceber o quanto as pessoas que cercam o Marcelo, de alguma maneira, precisam da sua presença ali. É como se a chegada dele trouxesse uma relevância para aquele ambiente que até então não existia. Acho que é nesse flanco que ele atua, é por isso que as pessoas se deixam levar por sujeitos como ele, acreditando na sua fantasia como um espelho.

VIPs
Produtora: O2 Filmes 
Direção: Toniko Melo 
Produção: Fernando Meirelles, Paulo Morelli, Bel Berlinck 
Argumento: Toniko Melo e Bráulio Mantovani, A.C. 
Roteiro: Bráulio Mantovani, A.C. e Thiago Dottori, A.C. 
Baseado no livro “VIPS – Histórias Reais de um Mentiroso” escrito por Mariana Caltabiano 
Direção de Fotografia: Mauro Pinheiro Jr., ABC 
Direção de Arte: Frederico Pinto 
Direção de Produção: Rodrigo Castellar 
Produção de Elenco: Cecília Homem de Mello 
Montagem: Gustavo Giani 
Música: Antonio Pinto 
Supervisão de Pós Produção: Hugo Gurgel 
Supervisão de Edição de Som: Alessandro Laroca 
Mixagem: Armando Torres Jr. 
Som Direto: Romeu Quinto, ABC 
Figurino: Verônica Julian 
Maquiagem: Donna Meirelles

Assessoria de Imprensa
Primeiro Plano - Anna Luiza Muller 
www.primeiroplanocom.com.br

Distribuidora
Paramount Pictures Brasil 
Escritório Rio de Janeiro - 55 (21) 2210-2400


Produtora
O2 Filmes 
www.o2filmes.com

sábado, 19 de março de 2011

Ministra Ana de Hollanda acha justificável cachê de R$ 600 mil para Bethânia

A Ministra da Cultura Ana de Hollanda, que mesmo antes de assumir já estava envolta em polêmicas por fazer um discurso de defesa incondicional do ECAD, e logo ao assumir retirar a licença Creative Commons do site do Ministério, mandar trazer de volta o projeto de reforma dos direitos autorais da Casa Civil - e dizer que nem é o caso dela ler o projeto pois ela é só a Ministra - talvez tenha finalmente selado seu destino no comando da pasta ao não enxergar "nada de mais" na aprovação pelo CNIC do milionário projeto de Blog de poesias de Maria Bethânia.

Há alguns dias o Ministério da Cultura já havia confundido as Leis ao publicar uma nota de esclarecimento que nada esclarece, e hoje, segundo informa a Folha de São Paulo, a ministra justifica o alto custo do blog  pelos "trabalhos" e pelas "filmagens" que o blog exigirá. "Está tudo justificado lá na planilha", afirmou a ministra, que ainda disse que a aprovação "não tem nada de mais".

Pois a planilha vazou na web (MinCleaks?) e foi publicada no blog do Pablo Villaça, aqui no blog, e depois de eu indicar o projeto ao implicante Gravataí Merengue, foi parar na Veja e nos principais veículos de comunicação do Brasil. A planilha indica que Bethânia receberia um cachê de R$ 600 mil pela realização do projeto, e as filmagens estão orçadas em R$ 365 mil. O mais absurdo é que o projeto, que foi diligenciado ano passado, sofreu cortes de R$ 440 mil para se adequar e ser aprovado este ano pela nova composição do CNIC, mas nenhum centavo do cachê de Bethânia foi cortado, apenas houve uma manobra pra dividir seu cachê em diversas funções.

Até agora ninguém envolvido no projeto havia conseguido justificar o alto custo, e pelo andar da carruagem ninguém vai conseguir aplacar a ira popular despertada pela notícia da aprovação do projeto de blog milionário feito com dinheiro público. Quando a planilha claramente demonstra que a soma do cachê da Artista Maria Bethânia (R$ 600 mil) e do Coordenador Editorial Hermano Vianna (R$ 120 mil) ultrapassa mais da metade do custo total de 1,3 milhão do projeto, a Ministra vir a público dizer que o alto custo é justificado por  "trabalhos" e "filmagens" é uma ofensa à inteligência da opinião pública.

Quem havia defendido o projeto começa a fazer mea culpa. Jorge Furtado, autor do artigo mais reproduzido e compartilhado por defensores da cantora e do projeto, escreveu novo artigo hoje onde diz: "Na hipótese de ser verdadeira a informação divulgada hoje de que o cachê da Bethânia para trabalhar no blog seria de quase metade do orçamento do projeto, me parece ter havido um erro de avaliação do Minc em aprová-lo nesses termos. Não acredito em quase nada que sai nos jornais e espero esclarecimentos dos produtores sobre o assunto."

Eu também espero esclarecimento dos produtores. Conversei ontem com a assessora de Bethânia e ainda aguardo resposta. Mas espero também esclarecimentos do CNIC, a Comissão Nacional de Incentivo à Cultura que aprovou o projeto, e principalmente espero esclarecimentos da Ministra Ana de Hollanda, que diz que viu a planilha e não acha nada de mais, acha tudo justificado.

Fernando Marés de Souza
Foto:Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr

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sexta-feira, 18 de março de 2011

Blog da Bethânia: envolvidos falham em tentar justificar alto custo

Hermano Vianna e Andrucha Waddington dizem que orçamento de blog de poesias é alto por causa da produção de vídeos, mas cachê de Bethânia seria maior que todo montante previsto para realização audiovisual.

Hermano Vianna, o idealizador do blog (ou videolog) da Betânia "O mundo precisa de poesia", aprovado para captação pelo CNIC e que gerou polêmica pelo orçamento milionário, escreveu um artigo hoje no Globo defendendo o projeto, e tenta explicar o alto custo do Blog:
"Há custos altos sim, e justificados: é trabalho diário de um ano, com 365 vídeos de alta qualidade a produzir, negociações de direitos autorais, contratação de gente para escrever sobre cada poeta, DJs etc. Nada é simples, ou fácil.", diz o antropólogo.
Quem não leu o projeto pode até engolir, mas depois que o projeto e sua planilha de custos se tornou pública - através deste blog e do blog do Pablo Villaça - é impossível corroborar a informação de Vianna. No projeto não há previsão de verba para direitos autorais, diz que a "Nova Fronteira se encaregará (sic) da liberação dos direitos dos poemas (ela já tem muitos poetas essenciais em seu vasto catálogo)." Também não há previsão de verba para DJ's, e a "contratação de gente para escrever" sobre cada poeta deve sair dos R$ 120 mil reservados pra "Cooordenação Editorial", menos de 10% do valor do projeto.

Andrucha Waddington também cita a produção dos 365 vídeos, em reportagem do blog de Bob Fernandes:
"É uma equipe que vai ter fotógrafo, produtor, maquiador, figurinista, equipamentos... Cada programa está custando R$ 3.562. São 365 programas. Um programa por dia. Trabalho de um ano. A gente vai produzir mais de 600 minutos - ou seja, o equivalente a cinco longas-metragens. No Brasil, um longa-metragem está custando entre quatro e sete, oito milhões de reais, tirando "Tropa de Elite"
Chega a ser desonesto comparar vlog de poesia com produções de cinema, que envolve finalização em película, grande elenco, equipe com centenas de pessoa. E a maioria dos longas brasileiros é realizado com menos de 1,3 milhão. Meu último longa, por exemplo, custou R$ 180 mil. Em todo caso, o valor reservado aos vídeos no projeto é de apenas R$ 365 mil reais, incluindo aí - supõe-se pois o projeto não é claro - o cachê de Andrucha.

A verdade é que o projeto é caro porque R$ 600 mil são reservados para pagar Maria Bethânia. Se Bethânia recebesse um valor mais condizente com o mercado e mais proporcional ao que recebe o restante da equipe, digamos R$ 100 mil, o orçamento do blog já cairia quase pela metade. Numa rápida análise com um colega produtor executivo, e utilizando minha experiência em cinema e internet, enxugando todos os cachês - inclusive os R$ 120 mil reservados pra Viana - despesas super-dimensionadas, e fazendo um cronograma de filmagem pra filmar todo material de uma vez, chegamos a conclusão que seria possível realizar o mesmo projeto com cerca de R$ 300 mil reais, pagando todo mundo nos valores de mercado, inclusive os direitos autorais dos poetas declamados.

Mas daí, na ótica de alguns, talvez não valesse a pena para os principais envolvidos, coordenador, diretor e artista, que ganhariam "apenas" cerca de R$ 20.000 reais cada um, pois enquanto eles dizem que o "mundo precisa de poesia", seu mundinho particular precisa é de dinheiro. E pelo jeito, pouco dinheiro não basta.

O mais triste é ver pessoas defendendo o valor obsceno cobrado por Bethânia. Zé de Abreu me disse: "o mundo artístico tem castas. Ela está no 1o time, merece". "O cachê dela é esse, ué!", disse Fábio Porchat, emendando: "Eu acho sim que o cachê da Bethânia é alto. Mas ela cobra quanto ela quiser."

Não é bem assim, Bethânia não pode "cobrar o quanto quiser", é dinheiro público que paga o cachê dela. E o cachê de Bethânia é imoral, e se não for irregular pelos critérios de avaliação do CNIC, a Comissão Nacional de Incentivo à Cultura, há algo de muito errado com os critérios do CNIC.

Se os realizadores do projeto desejam mesmo acabar com a polêmica, devem tentar uma abordagem honesta sobre o assunto, reconhecer os problemas do projeto, ao invés de tentar enganar a opinião pública com dados falsos ou meias verdades. Consultada pelo blog, a assessoria de imprensa de Maria Bethânia disse que não irá se pronunciar, ainda, sobre o valor do cachê no projeto.

Muita gente dizendo por aí que o problema não é a Bethânia, é a Lei Rouanet. Concordo em parte, a lei precisa urgentemente de reformas. Mas nesse caso específico, o problema não é a lei. É a ganância. E a cara de pau.

Fernando Marés de Souza

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quinta-feira, 17 de março de 2011

Furtado deveria ler o projeto de Bethânia antes de criticar quem critica

Jorge Furtado pisou na bola ao defender um projeto que não leu e acusar de ignorante e mau caráter  uma crítica legítima à aprovação pelo CNIC de um projeto milionário de vlog de poesias de Maria Bethânia, reduzindo um fato preocupante da nova gestão do Minc e seu recém empossado CNIC, como mero "furor udenista que almeja manchetes moralizadoras".

Sempre admirei o Furtado como roteirista e pensador da política pública para a cultura, e o celébre cineasta gaúcho já foi meu quase parente, num breve período quando namorei sua sobrinha, coincidentemente chamada Betânia, competente profissional do cinema por quem ainda nutro muito carinho e adimiração.

Mas Furtado erra feio desta vez. Poderia refutar seu artigo em diversos pontos, mas o Pablo Villaça, que vem fazendo a melhor cobertura sobre o Bethâniagate, já fez isso com propriedade no sexto de sete updates sobre o caso. Update: E Furtado respondeu com propriedade alguns deles.

Então faço apenas uma pergunta ao nobre colega Furtado: se eu fizer um projeto de vídeo orçado em 1,3 milhão, e dentro dele reservar um cachê de 600 mil para você, você assina o projeto para enviarmos ao Ministério da Cultura? Ou cachê super inflado só vale pra Maria Bethânia, que afinal é "uma das maiores artistas brasileiras de todos os tempos"?

Ninguém me demove da idéia de que o proponente levar como cachê quase metade da bolada prevista para um projeto cultural, que segundo o diretor Andrucha envolve "uma equipe que vai ter fotógrafo, produtor, maquiador, figurinista, equipamentos", é imoral e não pode ser aceito como uma coisa normal. O antigo CNIC enxergava isso e havia reprovado o projeto. O novo CNIC aprovou.

O CNIC deve imediatamente rever o projeto do blog de Bethânia. E o Jorge Furtado também.

UPDATE: Furtado ainda não leu o projeto, mas leu as manchetes que relatam o cachê de R$ 600 mil e escreveu novo artigo sobre o caso onde diz: "Na hipótese de ser verdadeira a informação divulgada hoje de que o cachê da Bethânia para trabalhar no blog seria de quase metade do orçamento do projeto, me parece ter havido um erro de avaliação do Minc em aprová-lo nesses termos"

Fernando Marés de Souza

"Participei de um encontro em Gramado para discutir a lei. Foi interrompido por Norma Benguel, aos gritos, dizendo que não aceitava um teto na captação de recursos, que ela queria filmar "O Guarani" e precisava de muitos milhões, uma orquestra e veludo de verdade. Usava em defesa de sua tese um argumento irrespondível: "Eu sou Norma Benguel". Está provado que era mesmo. A lei foi claramente feita de modo a permitir o uso que dela fazem, seguindo os princípios éticos revelados pela argumentação de Diogo Mainardi: "Se lhe oferecessem 800 000 mil reais, restituindo a metade por baixo do pano, você aceitaria? Aceitaria, claro". Claro? Mas isso não é crime? Se não é, devia ser. E se devia ser e não é, a lei está errada. Tire estes 50% de "custo-cinema-Brasil" e o preço médio dos nossos filmes já se equipara aos da Espanha. " - Jorge  Furtado, nao-til 64

Maria Bethânia cobra R$ 600 mil pra declamar poesia no Youtube

Planilha de custos comprova que do total de 1,3 milhão de reais aprovados, 600 mil iriam para o bolso de Bethânia. Projeto de blog de poesias havia sido reprovado ano passado, mas agora foi aprovado pela nova gestão do CNIC, mesmo sem cortes no cachê da cantora.

O diretor Andrucha Waddington chamou de "patrulhamento idiota" as criticas ao projeto de vlog de poesia milionário que ele, a cantora Maria Bethânia, e Hermano Vianna pretendem realizar com recursos da Lei Rouanet.

Grande parte dos ataques podem mesmo ter partido de idiotas usando argumentos idiotas, mas há uma crítica contundente e fundamentada contra o projeto, além de uma acusação séria de ser um projeto irregular aprovado pela Comissão Nacional de Incentivo à Cultura, que não podem ser ignoradas e confundidas com "trollagem" e "schadenfreude".

Está em jogo a reputação de competência e lisura da Comissão Nacional de Incentivo à Cultura - CNIC, empossada em janeiro pela Ministra da Cultura Ana de Hollanda, com mandato de dois anos, para o Biênio 2011/2012. Em fevereiro o Conselho aprovou centenas de projetos para captação de recursos oriundos de renúncia fiscal, dinheiro público, por isso o processo deve ser bem transparente.

O projeto de Bethânia, que havia sido reprovado ano passado e foi agora aprovado depois de cortes orçamentários, suscita perguntas ainda não respondidas. O MinC já publicou uma nota de esclarecimento que não esclarece nada. Ainda deve explicações.

Andrucha tenta explicar o alto custo: "É uma equipe que vai ter fotógrafo, produtor, maquiador, figurinista, equipamentos... Cada programa está custando R$ 3.562. São 365 programas." Diz reportagem do blog de Bob Fernandes: "Ele afirma que não se trata apenas de 'um blog'. Haverá postagens no YouTube e a divulgação do material, de junho de 2011 a junho de 2012."

O diretor parece desconhecer o projeto. O escandaloso não é o gasto estimado com a produção dos vídeos, e sim que quase metade do orçamento previsto, R$ 600 mil, iriam para o bolso de Bethânia. É uma desproporcionalidade evidente que não é compatível com os valores de mercado e nem pode ser compatível com os critérios e limites de custos que regem a aprovação de projetos culturais.

O FATO:

Mônica Bergamo publicou na Folha que "Maria Bethânia poderá ter R$ 1,3 milhão para criar blog", repercurtindo como uma bomba nas redes sociais, com muita desinformação entre detratores e defensores. O blogueiro, crítico de cinema, diretor e roteirista Pablo Villaça fez a melhor cobertura do caso, publicou o projeto original, teve acesso às modificações do projeto aprovado, e concluiu o óbvio que os pareceristas do MinC deveriam ter concluído: o valor de 600 mil reais para Maria Bethânia é inaceitável.

Relata Pablo: "Há várias modificações feitas em função do valor menor aprovado (cerca de 500 mil reais), mas o que mais me chamou a atenção é que o valor destinado à própria Maria Bethânia, inacreditáveis 600 mil reais, permaneceu inalterado. A justificativa apresentada no projeto que recebi:"Segundo resposta à diligência: De forma a readequar o orçamento, propomos novos valores para a remuneração da artista Maria Bethânia (antes designadas somente como direção artística total R$ 600.000,00), da seguinte forma: Direção artística: R$ 100.000,00; Seleção de textos e pesquisa: R$ 135.000,00; Atuação em vídeos (365 videos): R$ 365.000,00; (Total: R$ 600.000,00)".

E o projeto, que segundo assessoria da cantora é para "divulgar a leitura, a poesia", ainda falha não especificando qual valor vai destinar para os direitos autorais dos poetas declamados. O projeto é mal elaborado, superautoestimado e superfaturado. A relação custo/benefício do projeto no âmbito cultural precisa ser analisada com imparcialidade.

O que a moralidade pública recomenda é uma revisão imediata da aprovação do projeto, e o CNIC e Ministra Ana de Hollanda devem  explicar se de fato o alto valor aprovado para o cachê de Bethânia está dentro dos "critérios e limites de custos estabelecidos pelo Ministério da Cultura", previsto na Instrução Normativa. Se o MinC insistir que está, são os critérios e limites que devem ser imediatamente revistos.

Bethânia já disse que não vai falar sobre o caso, direito dela, mas os membros da Comissão do MinC não podem simplesmente se calar. E já está mais do que na hora de se trazer a discussão de uma reforma pra valer da Lei Rouanet. Assim não dá mais.


Fernando Marés de Souza

sexta-feira, 11 de março de 2011

O Roteiro de 'A Rede Social' e roteiristas na rede

Quando li o livro "Accidental Billionaires: The Founding of Facebook, A Tale of Sex, Money, Genius, and Betrayal", de Ben Mezrich, já circulava a informação de que Aaron Sorkin e David Fincher estavam adaptando a história para o cinema.

Confesso que deu inveja de Sorkin, era um material incrível para construtores de narrativas, e um veículo perfeito para uma boa estória de revelação de cárater.

Confesso também que não fiquei totalmente satisfeito com o resultado da adaptação, pois pra quem conhece a história em seus detalhes, algumas possibilidades dramáticas foram pouco exploradas, e a opção por criar alguns eventos fictícios - como quando Sean aparece por coincidência na porta de Zuckemberg em Palo Alto, pág 118 - seriam mais eficientes se fossem contados de uma maneira mais próxima da realidade narrada por Mezrich em seu livro.

Em todo caso, a Academia americana achou a adaptação boa o bastante para ser agraciada com um Oscar.

LEIA O ROTEIRO, publicado pela Sony.

O advento das redes sociais, inclusive as anteriores ao Facebook, foi muito positiva para as comunidades de roteiristas diletantes e profissionais. O Roteiro de Cinema está no Facebook, no Orkut, no Twitter, no Yahoo, e em diversos outros lugares que agora se tornaram obsoletos, formando uma rede de mais de 10.000 pessoas.

Há poucos dias criei, com Thiago Dottori e David França Mendes, as contas no Facebook e no Twitter da Associação Autores de Cinema, a mais prestigiosa agremiação de roteiristas do Brasil, da qual faço parte:
http://www.facebook.com/AutoresDeCinema
http://twitter.com/autoresdecinema







Fernando Marés de Souza

sexta-feira, 4 de março de 2011

Autores de Cinema apóiam o projeto de Lei dos Direitos Autorais

Autores de Cinema, 03 de março de 2011

No mundo inteiro se entende que roteiristas e diretores são autores das obras audiovisuais. Isso é indiscutível. No Brasil, no entanto, a atual Lei dos Direitos Autorais não contempla esse direito. Tal distorção estava em vias de finalmente ser corrigida com o novo projeto de Lei dos Direitos Autorais.

Fruto de muitos anos de discussão e trabalho sério e democrático envolvendo inúmeras associações profissionais de todas as categorias do setor audiovisual, o Projeto de Lei está sendo desconsiderado, provocando surpresa e indignação de todos nós, roteiristas e diretores de cinema e televisão.

A ministra Ana de Holanda afirma que é objetivo da sua administração defender o direito autoral. Apoiar esse Projeto de Lei, tão amplamente discutido pela sociedade e que visa exatamente garantir os direitos dos autores, é o que esperamos dela neste momento.

Autores de Cinema

Adriana Falcão
Aleksei Wrobel Abib
Bráulio Mantovani
Carlos Gregório
Carolina Kotscho
Claudio Galperin
Claudio Minoru Yosida
Dani Patarra
David França Mendes
Di Moretti
Eduardo Benaim
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Fernando Marés de Souza
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Juliana Reis
Luiz Bolognesi
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Márcio "Alemão"
Marcos Bernstein
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Melanie Dimantas
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Thiago Dottori
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rua bela cintra, 1702 cj 41 . jardim paulista . são paulo, SP .  + 55 11  2613 6849

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A Autores de Cinema – AC é uma associação de roteiristas, criada em agosto de 2006, com o objetivo principal de profissionalizar a atividade e assegurar a boa qualidade dos projetos e, por conseqüência, o crescimento da indústria cinematográfica no Brasil.
http://www.autoresdecinema.com.br/

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